A história mostra-nos o mais largo horizonte da humanidade, oferece-nos os conteúdos tradicionais que fundamentam a nossa vida, indica-nos os critérios para avaliação do presente, liberta-nos da inconsciente ligação à nossa época e ensina-nos a ver o homem nas suas mais elevadas possibilidades e nas suas realizações imperceptíveis.(...)A experiência do presente compreende-se melhor reflectida no espelho da história. Karl Jaspers

domingo, 30 de março de 2008

O MUNDO ÁRABE E AS GUERRAS ÁRABES ISRAELENSES



Quando Maomé, no século VII, fundou a religião muçulmana, nem ele imaginava que um dia esta crença seria a religião de praticamente todo o Oriente Médio e de uma boa parte do mundo além da Península Arábica. Após a morte do profeta tropas árabes através da expansão militar, em pouco tempo propagaram a fé islâmica em uma grande faixa da terra. Assim a maioria dos povos conquistados foram arabizados e islamizados, com algumas exceções: nos territórios europeus, na Ásia menor e no império persa. Dentro deste império islâmico também existiam cristãos e judeus, que tinham o direito de administrar suas próprias comunidades e professar seus cultos livremente mediante o pagamento de um imposto especial. Pode-se dizer que, de um modo geral, são árabes aqueles que se identificam com a língua, a cultura e os valores dos árabes, e que muçulmanos são aqueles que seguem a religião do islã.

O SURGIMENTO DO SIONISMO

Um movimento que pregava a volta de todo o povo judeu à Sion, uma colina de Jerusalém que simbolizava a terra prometida. A década de 1890, fica marcada por um crescente anti-semitismo Europeu, pela falência da política de integração dos judeus à sociedade européia, colocada em prática por vários países durante o século XIX. Foi portanto em contraposição ao anti-semitismo Europeu que a idéia do Sionismo pregava a criação de um estado Laico, não necessariamente na Palestina, que solucionasse o problema de segurança do povo judeu. No entanto, até meados do século XX, quando o anti-semitismo já havia se tornado política oficial na Alemanha nazista, a maioria dos judeus desconsiderava esta proposta, ainda confiante na possibilidade de integração à sociedade européia, na emancipação pessoal, ou adotaram uma solução de imigração individual. Diante deste quadro pode-se observar que nem todos os judeus tornaram-se sionistas.

ÁRABES E SIONISTAS NA PALESTINA

Ao final do século XIX, aumenta a imigração sionista em direção à Palestina. Neste momento eram raras as cenas de violência entre árabes e judeus sionistas. Muitos judeus chegaram à Palestina imbuídos do ideal de cooperação mútua e realmente acreditavam estar levando à região progresso e civilização. No início, os árabes palestinos em muito se beneficiaram com este novo quadro, desfrutando do mercado de trabalho aberto com a criação de comunidades agrícolas coletivistas e com a existência de novas cidades. Até o momento do crescimento da imigração judaica na região, os palestinos não possuíam qualquer tipo de reivindicação territorial de cunho nacionalista. Após a divisão do Oriente Médio pelas potências vitoriosas na 1ª Guerra, criando artificialmente países árabes e a afirmação do compromisso de fundação de um “Lar Judeu”, os palestinos fundam seu próprio movimento nacionalista, baseados no argumento de que se os judeus tinham direito aquela terra, eles também o tinham, por estarem na região há mais tempo que os sionistas. Pode-se afirmar que o movimento sionista motivou o nacionalista palestino. Algumas tentativas de construir uma base que permitisse uma convivência mútua durante as décadas de 1920 e 1930, judeus e palestinos deram início a uma disputa sem fim, até os dias de hoje, e os motivos que levam ao prolongamento deste conflito não são difíceis de entender; ambos tem objetivos semelhantes, e se acham dentro de seus direitos. Em 29 de novembro de 1947, as Nações Unidas decidem pelo fim do mandato britânico sobre a Palestina e divisão da região em dois estados autônomos e independentes, um árabe palestino e um judeu. A cidade de Jerusalém, cobiçada por ambos os lados, seria internacionalizada. Os sionistas aceitam os termos da partilha, mas os palestinos a recusam.
No momento em que o plano de partilha foi tornado público e com a divulgação da data do fim do mandato britânico, os choques entre palestinos e judeus acentuaram-se. Quando da proclamação oficial da criação do Estado de Israel irrompeu um ataque dos países árabes ao redor. Com um exército mais bem armado e o aumento contínuo do contingente de pessoal por conta da chegada de imigrantes vindos da Europa, Israel leva a melhor. Também na área política a superioridade israelense era evidente, até porque seus inimigos formavam um bloco nada coeso.
Vários movimentos surgiram no mundo árabe como projeto de união do povo de Maomé, uns defendiam que a unificação deveria acontecer em torno da observância dos preceitos religiosos, outros defendiam que a união dos árabes com o objetivo da criação de um estado único fosse feita através da cultura e da história e dos interesses em comum.
Até 1948 o nacionalismo árabe é um projeto fraco e fragmentado A partir do fim da guerra, o próprio sionismo e a Guerra Fria dão forte impulso ao movimento nacionalista árabe, conferindo-lhe um cunho popular inexistente até então. Em 1956, sob a liderança de Nasser, o Egito realiza a construção da barragem de Assuã e a nacionalização do canal de Suez. Este ato foi o estopim para o início de um conflito que envolveu as principais potências mundiais, que por este motivo suspenderam um empréstimo do Banco Mundial para a construção da barragem de Assuã. Nasser revidou, nacionalizando a companhia que gerenciava o canal, que até então era aberto a todas as nações e era administrado pelos ingleses, que o consideravam vital para manutenção de seu poder marítimo e interesses coloniais. Esta atitude mereceu uma resposta rápida: que veio através de um ataque de Israel, com o apoio da França e da Inglaterra, realiza pequenos ataques no Egito, na região da Faixa de Gaza, adotando a doutrina militar do ataque preventivo. Em pouco tempo Israel toma o deserto do Sinai e chega às portas da cidade de Cairo. A intervenção da ONU não tardou para resolver o conflito, que no entanto, deixou marcas por toda à parte. A aliança entre Israel, França e Inglaterra só veio a reforçar o mito árabe de que os israelenses seriam o trampolim do imperialismo ocidental encravado na região. Nasser tira proveito desta situação consolidando seu nome como a maior liderança do mundo árabe, dando impulso ao projeto de unificação de uma única nação árabe. No início dos anos 60, a política de Nasser fez com que o Egito fosse o principal defensor dos interesses árabes nas relações com o Estado de Israel. Até o ano de 1964 também os palestinos tinham no líder egípcio seu principal porta voz, também neste ano uma conferência das lideranças árabes criou a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), ficando sob o comando egípcio e com forças ligadas aos exércitos árabes vizinhos a Israel. Ao mesmo tempo, grupos de palestinos educados no exílio começam a agir na organização de movimentos genuinamente palestinos, criando assim o Fatah, liderado por Iasser Arafat, que defendia o confronto direto com Israel e a independência em relação aos outros países árabes, além de outros movimentos menores também defensores da luta armada e da utilização de táticas terroristas. No ano de 1967 toda a região parece um barril de pólvora preste a explodir, com atitudes hostis, tanto por parte dos judeus israelenses como também por parte dos árabes e palestinos. Toda esta tensão culmina com a decisão de Israel de, no dia 05 de junho de 1967, iniciar um ataque contra alvos árabes, em poucos dias, toda força aérea egípcia foi destruída e Israel ocupa toda a Península do Sinai, a Cisjordânia e as Colinas de Golan (até então pertencentes à Síria) e ainda anexa Jerusalém ao seu território, a este conflito deu-se o nome de Guerra dos Seis Dias. Este conflito determinou a mudança definitiva do equilíbrio de forças no Oriente Médio, passou a ser claro que Israel era o maior poderio militar da região, e que as novas fronteiras conquistadas, lhe dariam agora maior segurança. O único problema era que essas novas fronteiras lhe dariam maior controle sobre os campos de refugiados, agora dentro de suas fronteiras, e este controle faria com que se fortalecesse o sentimento de identidade nacionalista palestina, gerando um maior número de ataques terroristas contra alvos israelenses. O maior de todos os ataques acontece durante as olimpíadas de 1974 em Munique, quando palestinos invadem a vila olímpica e matam diversos atletas israelenses.
O sentimento de vergonha e ódio crescente entre os árabes pelas seguidas derrotas diante de Israel na tentativa de recuperar os territórios perdidos, Faz com que Egito e Síria invadam Israel no Yon Kippur no ano de 1973. Apesar das perdas que sofre, Israel consegue contra-atacar, avançando em território egípcio até as portas da cidade de Cairo. Um acordo político encerra o conflito, mas este conflito marca, principalmente, pelo fato de que pela primeira vez os países árabes utilizam o petróleo como arma política. Diante disto e visando salvaguardar seus próprios interesses os Estados Unidos passam a interferir mais na região, como mediadores de um passível acordo entre árabes e israelenses. A principal tentativa foi o encontro entre palestinos e judeus em Camp David sob a mediação do presidente Jimmy Carter, que embora saudado em todo o mundo como início da aproximação que colocaria um fim aos conflitos, foi marcado por manifestações hostis em todo o mundo árabe, e com a rejeição dos palestinos que não haviam sido consultados sobre os termos do acordo.
A partir da década de 80, novos fatores passam a influenciar na seara política do Oriente Médio, criando novos focos de conflitos, tais como aumento das tensões entre judeus e palestinos e conflitos no Golfo Pérsico. Com o resultado da Revolução Islâmica no Irã e temeroso das conseqüências desta revolução em seu próprio território, também de maioria xiita, o Iraque decide invadir o Irã, provocando mais uma vez a cisão entre os países árabes, onde o apoio aos países em conflito ficou dividido. O confronto entre Irã-Iraque também revelou ao mundo a crescente importância do petróleo na região; as grandes potências só intervieram quando petroleiros foram atingidos, se destruídos, poderiam prejudicar o suprimento de combustível ao Ocidente. As rivalidades, tensões e mais uma vez a busca de solução para seus próprios problemas, fazem com que o Iraque invada o Kuwait. Liderada pelos EUA, com autorização da ONU, uma grande coalizão internacional ataca o Iraque em 1991. o Iraque busca o apoio dos povos árabes lançando mísseis contra Israel na esperança de que este revidasse, motivando assim a entrada de outros países árabes sem apoio. O plano fracassa porque o governo israelense é orientado a não revidar, para que não se visse envolvido no conflito. Diante disto às forças iraquianas são rapidamente derrotadas.

A QUESTÃO PALESTINA

Desde o início dos anos, quando da escalada das ações terroristas palestinas fica evidente ao mundo que a não solução traria conseqüências desastrosas para ambos os lados e provavelmente ao mundo. Claro que nem todos concordam com isso, e as maiores resistências a um acordo estavam justamente entre palestinos e judeus. A partir de 1977, a colonização dos territórios ocupados tornou-se política oficial do governo israelense.e a manutenção dos territórios ocupados vistos como primordiais à política de segurança nacional. Esta política israelense se fortalecia à medida que ocorriam os ataques da guerrilha Palestina. Após o acordo de Camp David o Egito deixa de ser um aliado da OLP, enfraquecendo-a. Esta então muda a direção de suas atitudes passando a trabalhar com a possibilidade de um acordo via diplomacia, mas essa mudança não agrada a todos os palestinos, já que existiam grupos que não desejavam abandonar a luta armada.
Em 1982 Israel invade o Líbano, sob a desculpa de eliminar focos de terroristas, mas com excessivo entusiasmo, termina por invadir a cidade de Beirute causando grande número de baixas entre a população civil e ao próprio exercito israelense e a um grande número de palestinos. A OLP entra em crise, quando suas táticas de negociação deixam de seduzir suas bases, principalmente os habitantes da Cisjordânia e a faixa de Gaza. O desespero desta população levou a “Intifada” (ressurreição), a Revolução das Pedras, que começou espontaneamente, tomando de surpresa o governo de Israel. Afinal armados com paus e pedras, jovens palestinos passaram a enfrentar as tropas israelenses, que reagiam aos ataques atirando contra os palestinos, a esta desproporção de forças, utilizam-se os principais grupos de oposição ao Estado de Israel, como arma de propaganda, buscando a simpatia do mundo para sua causa. Outros grupos, como o Hammas, não se preocupam com o uso político da intifada e passam a tomar parte dos ataques.

A MUDANÇA DA OLP

Temendo perder de vez a liderança da população, a OLP gira radicalmente seu posicionamento: renuncia ao terrorismo; reconhece o Estado de Israel e enfatiza a necessidade da criação do estado palestino. Esta mudança de atitude surpreende o governo israelense que se vê pressionado a mudar sua política em relação aos palestinos. Com o conflito no Golfo onde somente a OLP apoiou o Iraque, Israel começa a deixar sua posição de isolamento na região.
A primeira conferência de paz acontece em 1991. Entretanto somente com a chegada ao poder de Itzhak Rabin, as intenções de paz começam a dar resultados. Acontece o encontro entre Rabin e Arafat. Um acordo foi firmado e previa a autonomia palestina sobre Gaza e a cidade de Jericó Com a retirada do exército de Israel. Aos poucos, a autonomia alcançaria outras áreas, desenhando assim a área da autoridade nacional Palestina. O bom clima dado pelo acordo de paz alavanca a aproximação de Israel com outros países árabes como o Marrocos, a Tunísia e a Jordânia. Entretanto nem tudo corria satisfatoriamente, Arafat e Rabin enfrentam a insatisfação dentro de seus territórios, vindo principalmente dos fundamentalistas, culminando com o assassinato do primeiro ministro israelense

CONCLUSÃO

Quando se olha na direção do Oriente Médio e em particular na área Palestina-Israelense, a pergunta à busca de uma resposta é: Haverá algum dia de paz no Oriente Médio? Vários fatores dificultam o caminho do processo que levaria à paz na região, mas sem dúvida o fator de maior dificuldade é a atuação de grupos fundamentalistas, tanto judeus como árabe-palestinos, movimentos que unem política e religião e buscam fundamentos históricos para defenderem suas posições. O fundamentalismo enfraquece os governos fazendo com que seus líderes tenham que dispor de energia e tempo, não somente para solucionar o conflito externo, mas para equilibrar as forças internas de cada governo, desviando o foco do que deveria ser o objetivo principal de cada governo: à busca da paz na região.

Resumo do artigo "O mundo árabe e as guerras árabes israelenses" de  GRINBERG, Keila.

Por Celso de Almeida.

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