A história mostra-nos o mais largo horizonte da humanidade, oferece-nos os conteúdos tradicionais que fundamentam a nossa vida, indica-nos os critérios para avaliação do presente, liberta-nos da inconsciente ligação à nossa época e ensina-nos a ver o homem nas suas mais elevadas possibilidades e nas suas realizações imperceptíveis.(...)A experiência do presente compreende-se melhor reflectida no espelho da história. Karl Jaspers

domingo, 30 de março de 2008

O MUNDO ÁRABE E AS GUERRAS ÁRABES ISRAELENSES



Quando Maomé, no século VII, fundou a religião muçulmana, nem ele imaginava que um dia esta crença seria a religião de praticamente todo o Oriente Médio e de uma boa parte do mundo além da Península Arábica. Após a morte do profeta tropas árabes através da expansão militar, em pouco tempo propagaram a fé islâmica em uma grande faixa da terra. Assim a maioria dos povos conquistados foram arabizados e islamizados, com algumas exceções: nos territórios europeus, na Ásia menor e no império persa. Dentro deste império islâmico também existiam cristãos e judeus, que tinham o direito de administrar suas próprias comunidades e professar seus cultos livremente mediante o pagamento de um imposto especial. Pode-se dizer que, de um modo geral, são árabes aqueles que se identificam com a língua, a cultura e os valores dos árabes, e que muçulmanos são aqueles que seguem a religião do islã.

O SURGIMENTO DO SIONISMO

Um movimento que pregava a volta de todo o povo judeu à Sion, uma colina de Jerusalém que simbolizava a terra prometida. A década de 1890, fica marcada por um crescente anti-semitismo Europeu, pela falência da política de integração dos judeus à sociedade européia, colocada em prática por vários países durante o século XIX. Foi portanto em contraposição ao anti-semitismo Europeu que a idéia do Sionismo pregava a criação de um estado Laico, não necessariamente na Palestina, que solucionasse o problema de segurança do povo judeu. No entanto, até meados do século XX, quando o anti-semitismo já havia se tornado política oficial na Alemanha nazista, a maioria dos judeus desconsiderava esta proposta, ainda confiante na possibilidade de integração à sociedade européia, na emancipação pessoal, ou adotaram uma solução de imigração individual. Diante deste quadro pode-se observar que nem todos os judeus tornaram-se sionistas.

ÁRABES E SIONISTAS NA PALESTINA

Ao final do século XIX, aumenta a imigração sionista em direção à Palestina. Neste momento eram raras as cenas de violência entre árabes e judeus sionistas. Muitos judeus chegaram à Palestina imbuídos do ideal de cooperação mútua e realmente acreditavam estar levando à região progresso e civilização. No início, os árabes palestinos em muito se beneficiaram com este novo quadro, desfrutando do mercado de trabalho aberto com a criação de comunidades agrícolas coletivistas e com a existência de novas cidades. Até o momento do crescimento da imigração judaica na região, os palestinos não possuíam qualquer tipo de reivindicação territorial de cunho nacionalista. Após a divisão do Oriente Médio pelas potências vitoriosas na 1ª Guerra, criando artificialmente países árabes e a afirmação do compromisso de fundação de um “Lar Judeu”, os palestinos fundam seu próprio movimento nacionalista, baseados no argumento de que se os judeus tinham direito aquela terra, eles também o tinham, por estarem na região há mais tempo que os sionistas. Pode-se afirmar que o movimento sionista motivou o nacionalista palestino. Algumas tentativas de construir uma base que permitisse uma convivência mútua durante as décadas de 1920 e 1930, judeus e palestinos deram início a uma disputa sem fim, até os dias de hoje, e os motivos que levam ao prolongamento deste conflito não são difíceis de entender; ambos tem objetivos semelhantes, e se acham dentro de seus direitos. Em 29 de novembro de 1947, as Nações Unidas decidem pelo fim do mandato britânico sobre a Palestina e divisão da região em dois estados autônomos e independentes, um árabe palestino e um judeu. A cidade de Jerusalém, cobiçada por ambos os lados, seria internacionalizada. Os sionistas aceitam os termos da partilha, mas os palestinos a recusam.
No momento em que o plano de partilha foi tornado público e com a divulgação da data do fim do mandato britânico, os choques entre palestinos e judeus acentuaram-se. Quando da proclamação oficial da criação do Estado de Israel irrompeu um ataque dos países árabes ao redor. Com um exército mais bem armado e o aumento contínuo do contingente de pessoal por conta da chegada de imigrantes vindos da Europa, Israel leva a melhor. Também na área política a superioridade israelense era evidente, até porque seus inimigos formavam um bloco nada coeso.
Vários movimentos surgiram no mundo árabe como projeto de união do povo de Maomé, uns defendiam que a unificação deveria acontecer em torno da observância dos preceitos religiosos, outros defendiam que a união dos árabes com o objetivo da criação de um estado único fosse feita através da cultura e da história e dos interesses em comum.
Até 1948 o nacionalismo árabe é um projeto fraco e fragmentado A partir do fim da guerra, o próprio sionismo e a Guerra Fria dão forte impulso ao movimento nacionalista árabe, conferindo-lhe um cunho popular inexistente até então. Em 1956, sob a liderança de Nasser, o Egito realiza a construção da barragem de Assuã e a nacionalização do canal de Suez. Este ato foi o estopim para o início de um conflito que envolveu as principais potências mundiais, que por este motivo suspenderam um empréstimo do Banco Mundial para a construção da barragem de Assuã. Nasser revidou, nacionalizando a companhia que gerenciava o canal, que até então era aberto a todas as nações e era administrado pelos ingleses, que o consideravam vital para manutenção de seu poder marítimo e interesses coloniais. Esta atitude mereceu uma resposta rápida: que veio através de um ataque de Israel, com o apoio da França e da Inglaterra, realiza pequenos ataques no Egito, na região da Faixa de Gaza, adotando a doutrina militar do ataque preventivo. Em pouco tempo Israel toma o deserto do Sinai e chega às portas da cidade de Cairo. A intervenção da ONU não tardou para resolver o conflito, que no entanto, deixou marcas por toda à parte. A aliança entre Israel, França e Inglaterra só veio a reforçar o mito árabe de que os israelenses seriam o trampolim do imperialismo ocidental encravado na região. Nasser tira proveito desta situação consolidando seu nome como a maior liderança do mundo árabe, dando impulso ao projeto de unificação de uma única nação árabe. No início dos anos 60, a política de Nasser fez com que o Egito fosse o principal defensor dos interesses árabes nas relações com o Estado de Israel. Até o ano de 1964 também os palestinos tinham no líder egípcio seu principal porta voz, também neste ano uma conferência das lideranças árabes criou a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), ficando sob o comando egípcio e com forças ligadas aos exércitos árabes vizinhos a Israel. Ao mesmo tempo, grupos de palestinos educados no exílio começam a agir na organização de movimentos genuinamente palestinos, criando assim o Fatah, liderado por Iasser Arafat, que defendia o confronto direto com Israel e a independência em relação aos outros países árabes, além de outros movimentos menores também defensores da luta armada e da utilização de táticas terroristas. No ano de 1967 toda a região parece um barril de pólvora preste a explodir, com atitudes hostis, tanto por parte dos judeus israelenses como também por parte dos árabes e palestinos. Toda esta tensão culmina com a decisão de Israel de, no dia 05 de junho de 1967, iniciar um ataque contra alvos árabes, em poucos dias, toda força aérea egípcia foi destruída e Israel ocupa toda a Península do Sinai, a Cisjordânia e as Colinas de Golan (até então pertencentes à Síria) e ainda anexa Jerusalém ao seu território, a este conflito deu-se o nome de Guerra dos Seis Dias. Este conflito determinou a mudança definitiva do equilíbrio de forças no Oriente Médio, passou a ser claro que Israel era o maior poderio militar da região, e que as novas fronteiras conquistadas, lhe dariam agora maior segurança. O único problema era que essas novas fronteiras lhe dariam maior controle sobre os campos de refugiados, agora dentro de suas fronteiras, e este controle faria com que se fortalecesse o sentimento de identidade nacionalista palestina, gerando um maior número de ataques terroristas contra alvos israelenses. O maior de todos os ataques acontece durante as olimpíadas de 1974 em Munique, quando palestinos invadem a vila olímpica e matam diversos atletas israelenses.
O sentimento de vergonha e ódio crescente entre os árabes pelas seguidas derrotas diante de Israel na tentativa de recuperar os territórios perdidos, Faz com que Egito e Síria invadam Israel no Yon Kippur no ano de 1973. Apesar das perdas que sofre, Israel consegue contra-atacar, avançando em território egípcio até as portas da cidade de Cairo. Um acordo político encerra o conflito, mas este conflito marca, principalmente, pelo fato de que pela primeira vez os países árabes utilizam o petróleo como arma política. Diante disto e visando salvaguardar seus próprios interesses os Estados Unidos passam a interferir mais na região, como mediadores de um passível acordo entre árabes e israelenses. A principal tentativa foi o encontro entre palestinos e judeus em Camp David sob a mediação do presidente Jimmy Carter, que embora saudado em todo o mundo como início da aproximação que colocaria um fim aos conflitos, foi marcado por manifestações hostis em todo o mundo árabe, e com a rejeição dos palestinos que não haviam sido consultados sobre os termos do acordo.
A partir da década de 80, novos fatores passam a influenciar na seara política do Oriente Médio, criando novos focos de conflitos, tais como aumento das tensões entre judeus e palestinos e conflitos no Golfo Pérsico. Com o resultado da Revolução Islâmica no Irã e temeroso das conseqüências desta revolução em seu próprio território, também de maioria xiita, o Iraque decide invadir o Irã, provocando mais uma vez a cisão entre os países árabes, onde o apoio aos países em conflito ficou dividido. O confronto entre Irã-Iraque também revelou ao mundo a crescente importância do petróleo na região; as grandes potências só intervieram quando petroleiros foram atingidos, se destruídos, poderiam prejudicar o suprimento de combustível ao Ocidente. As rivalidades, tensões e mais uma vez a busca de solução para seus próprios problemas, fazem com que o Iraque invada o Kuwait. Liderada pelos EUA, com autorização da ONU, uma grande coalizão internacional ataca o Iraque em 1991. o Iraque busca o apoio dos povos árabes lançando mísseis contra Israel na esperança de que este revidasse, motivando assim a entrada de outros países árabes sem apoio. O plano fracassa porque o governo israelense é orientado a não revidar, para que não se visse envolvido no conflito. Diante disto às forças iraquianas são rapidamente derrotadas.

A QUESTÃO PALESTINA

Desde o início dos anos, quando da escalada das ações terroristas palestinas fica evidente ao mundo que a não solução traria conseqüências desastrosas para ambos os lados e provavelmente ao mundo. Claro que nem todos concordam com isso, e as maiores resistências a um acordo estavam justamente entre palestinos e judeus. A partir de 1977, a colonização dos territórios ocupados tornou-se política oficial do governo israelense.e a manutenção dos territórios ocupados vistos como primordiais à política de segurança nacional. Esta política israelense se fortalecia à medida que ocorriam os ataques da guerrilha Palestina. Após o acordo de Camp David o Egito deixa de ser um aliado da OLP, enfraquecendo-a. Esta então muda a direção de suas atitudes passando a trabalhar com a possibilidade de um acordo via diplomacia, mas essa mudança não agrada a todos os palestinos, já que existiam grupos que não desejavam abandonar a luta armada.
Em 1982 Israel invade o Líbano, sob a desculpa de eliminar focos de terroristas, mas com excessivo entusiasmo, termina por invadir a cidade de Beirute causando grande número de baixas entre a população civil e ao próprio exercito israelense e a um grande número de palestinos. A OLP entra em crise, quando suas táticas de negociação deixam de seduzir suas bases, principalmente os habitantes da Cisjordânia e a faixa de Gaza. O desespero desta população levou a “Intifada” (ressurreição), a Revolução das Pedras, que começou espontaneamente, tomando de surpresa o governo de Israel. Afinal armados com paus e pedras, jovens palestinos passaram a enfrentar as tropas israelenses, que reagiam aos ataques atirando contra os palestinos, a esta desproporção de forças, utilizam-se os principais grupos de oposição ao Estado de Israel, como arma de propaganda, buscando a simpatia do mundo para sua causa. Outros grupos, como o Hammas, não se preocupam com o uso político da intifada e passam a tomar parte dos ataques.

A MUDANÇA DA OLP

Temendo perder de vez a liderança da população, a OLP gira radicalmente seu posicionamento: renuncia ao terrorismo; reconhece o Estado de Israel e enfatiza a necessidade da criação do estado palestino. Esta mudança de atitude surpreende o governo israelense que se vê pressionado a mudar sua política em relação aos palestinos. Com o conflito no Golfo onde somente a OLP apoiou o Iraque, Israel começa a deixar sua posição de isolamento na região.
A primeira conferência de paz acontece em 1991. Entretanto somente com a chegada ao poder de Itzhak Rabin, as intenções de paz começam a dar resultados. Acontece o encontro entre Rabin e Arafat. Um acordo foi firmado e previa a autonomia palestina sobre Gaza e a cidade de Jericó Com a retirada do exército de Israel. Aos poucos, a autonomia alcançaria outras áreas, desenhando assim a área da autoridade nacional Palestina. O bom clima dado pelo acordo de paz alavanca a aproximação de Israel com outros países árabes como o Marrocos, a Tunísia e a Jordânia. Entretanto nem tudo corria satisfatoriamente, Arafat e Rabin enfrentam a insatisfação dentro de seus territórios, vindo principalmente dos fundamentalistas, culminando com o assassinato do primeiro ministro israelense

CONCLUSÃO

Quando se olha na direção do Oriente Médio e em particular na área Palestina-Israelense, a pergunta à busca de uma resposta é: Haverá algum dia de paz no Oriente Médio? Vários fatores dificultam o caminho do processo que levaria à paz na região, mas sem dúvida o fator de maior dificuldade é a atuação de grupos fundamentalistas, tanto judeus como árabe-palestinos, movimentos que unem política e religião e buscam fundamentos históricos para defenderem suas posições. O fundamentalismo enfraquece os governos fazendo com que seus líderes tenham que dispor de energia e tempo, não somente para solucionar o conflito externo, mas para equilibrar as forças internas de cada governo, desviando o foco do que deveria ser o objetivo principal de cada governo: à busca da paz na região.

Resumo do artigo "O mundo árabe e as guerras árabes israelenses" de  GRINBERG, Keila.

Por Celso de Almeida.

A VERDADE



A verdade deve ser defendida. Esta afirmação é verdadeira, mais qual verdade deverá ser defendida? A verdade útil? A verdade da qual se utilizam os regimes para estabelecer controle social? Esta verdade, sabemos, nem tão verdadeira será, mais certamente estabelecerá os limites de controle necessários ao poder constituído. O “regime da verdade” imposto a humanidade, não é fato novo, foi assim através dos tempos e dificilmente algum dia isto será mudado, os regimes totalitários e absolutistas da idade média faziam o povo acreditar que seu poder era concedido pelo divino, por quem eram escolhidos. Outros mais antigos ainda, faziam crer que descendiam diretamente de Deus, depois de forma mais recente historicamente, grandes pensadores escoceses faziam o povo acreditar, que era fato inquestionável e verdadeiro, que a burguesia era merecedora de estar a frente das decisões do estado, e fazendo crer que existe a necessidade da divisão em classes sociais, e desta forma, digo, com esta verdade, mantinha-se o povo no lugar do povo, e os dominantes dominando. Nada mudou, hoje somos levados a crer que civilidade é não protestar, desta forma há um controle social evitando a desordem.
Conclui-se, que a verdade deve ser buscada por cada um de nós, pois a verdade de uns, não deve ser a verdade da maioria, sua busca deve ser incessante superando nossos interesses pessoais.


Celso de Almeida – História.


*Foto: Deusa da Verdade.

ILUMINISMO: ESCOLA ESCOCESA

ILUMINISMO

Os princípios iluministas andam em geral associados a uma crítica racional propícia a investigação científica e tecnológica, a tolerância, ao humanitarismo e aos direitos universais do homem. Os ideais iluministas têm antecedentes antigos, quando os gregos se consideravam superiores aos bárbaros, partiam da noção de que sua cultura radicava numa valorização da razão e da tradição intelectual que escapavam a outros povos. A valorização da razão é sua principal característica, utilizada como instrumento de análise, reflexão sobre a sociedade na qual viviam. Os iluministas influenciaram na formação da opinião pública e também foram influenciados por ela. A historiografia Iluminista busca também, mostrar a História como produto da ação humana, outro fator inato ao movimento é o ceticismo, que duvida do que é estabelecido como “verdade absoluta” sem antes criticá-la. É preciso ir além dos conhecimentos pertinentes as ciências sociais é preciso vislumbrar outras áreas do saber, para os iluministas só através da razão o homem poderia alcançar o conhecimento, a convivência harmoniosa em sociedade, a liberdade individual e a felicidade. A razão era, portanto, o único guia da sabedoria capaz de esclarecer qualquer problema, possibilitando ao homem a compreensão e o domínio da natureza. As tendências que marcaram o Iluminismo foram: a valorização do culto da razão e predominância da ciência; crença no aperfeiçoamento do homem e a liberdade política, econômica e religiosa. Os iluministas eram deístas, isto é, acreditavam que Deus está presente na natureza, portanto no próprio homem, que pode descobri-lo através da razão. Para encontrar Deus, bastaria levar vida piedosa e virtuosa; a Igreja tornava-se dispensável. Os iluministas criticavam-na por sua intolerância, ambição política e inutilidade das ordens monásticas. A história contada como progresso da razão humana, seria esta a base historiográfica mais determinante da teoria iluminista.

A ESCOLA ESCOCESA

A primeira referência ao modelo de história baseada no desenvolvimento econômico surge em alguns textos de Discursos de Hume, A primeira fase da história foi à caça e pesca, em seguida cresceram desigualmente a agricultura e as manufaturas: uma economia de base agrária, limitada ao intercâmbio entre os excedentes camponeses e os produtos das manufaturas locais. O desenvolvimento do mercado é o principal fator de desenvolvimento econômico. Passa-se a entender que a divisão entre a barbárie e a civilização é condicionada pelo processo de divisão do trabalho e a propriedade privada, e as instituições de governo aparecem relacionadas com os estágios de crescimento econômico. A historia baseada em quatro estágios da evolução humana: Caça e pesca, pecuária, agricultura e comércio, e aos diferentes estágios correspondem diferentes formas de organização social e diferentes instituições sobre a propriedade e a forma de governo, sistema legal e divisão do trabalho. Partindo-se da concepção que vê o curso da história como a ascensão da barbárie ao capitalismo, estabelece-se neste período um programa para o pleno desenvolvimento deste, no contexto do liberalismo econômico, com um sistema político que garantisse o respeito pela propriedade privada, com a promessa explícita de progresso para todos.
A Escócia tinha-se tornado a primeira nação européia alfabetizada. Isso significava que estava criada uma audiência não apenas para a bíblia mas para outros livros também. À medida que no século XVIII a censura afrouxava, verificou-se uma autêntica explosão de produção literária. Mesmo as pessoas de posses mais modestas tinham agora a sua própria coleção de livros. Aqueles que não os podiam comprar tinham agora a possibilidade de os emprestar nas bibliotecas públicas escocesas, que por volta de 1750 existiam em virtualmente todas as cidades, de qualquer tamanho.
Diante de todos os fatores que norteavam a teoria da história na visão dos pensadores da escola francesa, buscava-se legitimar a ascensão da burguesia o direito a propriedade, e que esta sociedade era o ápice da evolução humana, e que este progresso alcançado era um processo irreversível na evolução da humanidade, progresso alcançado pela evolução econômica e tecnológica.

A VISÃO CONTEMPORÂNEA

Analisando-se as formas de teoria da história tanto do iluminismo quanto da escola escocesa poderemos observar diversos pontos em comum com a visão histórica atual, onde ainda continuamos a estudar a história com a finalidade de analisar o passado para compreender o presente e preparar o futuro.
Deste período podemos destacar como visão historiográfica ainda atual vários fatores, tais como: Padrões de comportamento político, econômico, cultural, social e científico. O “Estado Nação”, a “imprensa”, a “economia de mercado”, a “ciência moderna”, a “democracia representativa”, a “cultura secular”, o “expansionismo econômico”, o “equilíbrio entre os três poderes”, a “razão histórica”, o “progresso”, o “contrato social”, a “superação do pensamento tradicional”, o “direito à propriedade privada”, a “busca do conhecimento como forma de evolução”, o “avanço tecnológico e econômico com etapa de evolução da história”.
Como se vê, a nossa época, a sociedade em que vivemos, continuam sendo influenciadas pelos ideais e conceitos iluministas: o sentido social do pertencimento, a identidade cultural que partilhamos com os demais membros da comunidade, ainda são influências da nacionalidade que nos abriga. A influência do iluminismo sobre o mundo contemporâneo pode ser encontrada nos vários aspectos de nossas formas de encarar a história. Sociedades democráticas, parlamentos, estado de direito, economia de mercado, avanço tecnológico, igualdade, reciprocidade de direitos e deveres perante as leis, liberdade para empreender e gerir negócios, racionalização da visão de mundo, concepção mecanicista e materialista.
Tais elementos formam um complexo de idéias que foram dominantes no período da ilustração e que ainda hoje norteiam nossa visão da história.

Por: Celso de Almeida.

*Foto: Adam Smith

AFINAL O QUE FAZ O HISTORIADOR?


Afinal o que faz o historiador? Responder esta aparentemente simples pergunta, exige uma análise bastante profunda da situação que a envolve, não podendo ser respondida de uma forma limitada aos bancos acadêmicos, há de se lançar um olhar abrangente em todos os aspectos que envolvem a vida deste profissional, sua realidade, seus conceitos e suas ideologias.
Atualmente, os historiadores produzem modos de trabalhar para reduzir a influência dos historiadores interpretativos, criando métodos rigorosos de pesquisa que tentam transformar em universais. Debate-se de que forma o historiador adquire seu conhecimento, se as técnicas utilizadas são adequadas na busca da comprovação da verdade, para reescrever o passado, nem sempre digno, correto, justo mais que ainda assim, deve ser contado.
Será que o historiador escreve uma história imparcial? Não é difícil concluir, que não, pois a análise do passado e sua reescrita são feitas por um profissional impregnado de influências externas em seu trabalho de pesquisa, muitas das quais, negativas, e por isso mesmo, posicionando-o a favor de alguém ou simplesmente a favor de suas próprias convicções. Torna-se então, necessário refletir, para quem se escreve a história! Ainda existem muitas perguntas sem respostas; seria a história escrita somente para os ricos, ou brancos, pobres, ou negros, homens ou mulheres? A história é escrita para todos nós, e sua escrita deve ser pautada em pesquisas cada vez mais profundas, que permitam comprovar a verdade dos fatos.
Quanto a análise pura e simples do papel do historiador; JENKINS diz o seguinte: “Debatem se o historiador pode adquirir conhecimento de maneira objetiva e por meio de “práticas apropriadas” ou se esse conhecimento é intersubjetivo ou interpretativo; se a história está livre de juízos de valorou se é sempre posicionada “para alguém”, se a história é inocente/pura ou ideológica, se é imparcial ou parcial, se é fato ou fantasia. Ou debatem se a empatia pode nos proporcionar um entendimento real das pessoas que viveram no passado; se, indo às fontes originais (vestígios do passado), podemos alcançar um conhecimento verdadeiro e profundo,se aqueles parâmetros conceituais de que falamos representam a essência da história; e, por fim, se os reais segredos do passado serão revelados mediante o rigor do cientista ou o instinto do artista”.
Diante destes fatos, deve-se refletir, que apesar das muitas influências que sofre, o historiador deve estar sempre a busca da verdade dos fatos e acontecimentos da história, utilizando-se de todas as técnicas possíveis, dendo buscar sempre a imparcialidade mesmo quando isto não seja tão possível, deve saber que não escreve sobre o passado, mais sim, sobre “os passados”, de todos sem distinção, de cor, sexo, posição social, etnias. Passado de todos os povos, não do homem, mais da humanidade.

Celso de Almeida - História.
*Foto: Heródoto

EDUCAÇÃO BÁSICA DURANTE O PERÍODO MILITAR



INTRODUÇÃO


Neste trabalho discorreremos sobre Educação Básica durante o Regime Militar de Governo (1964/1985). A educação escolar durante qualquer governo segue normas e diretrizes estabelecidas pelos governantes, visando quase sempre interesses políticos, e como tal não foi diferente no período do governo militar. O modelo educacional instituído teve como principal objetivo formar o cidadão para a instrução técnica, ficando relegada a educação básica a uma segundo plano na ordem de prioridade, esquecendo-se que a educação básica influi decisivamente na formação moral e no caráter do individuo. Estas afirmações levam-nos ao questionamento sobre a prática docente, e sobre o modelo educacional adotado, no decorrer do trabalho analisaremos: fatos, leis, formação de professores, movimentos educacionais. Imprescindível ressalvar que a educação funcionava como uma estratégia de hegemonia, procurando difundir ideais através da escola.

1 - EDUCAÇÃO BÁSICA NO REGIME MILITAR (1964-1985)


Alguma coisa acontecia na educação brasileira. Pensava-se erradicar definitivamente o analfabetismo através de um programa nacional, levando-se em conta as diferenças sociais e culturais de cada região. O período anterior, de 1946 ao principio de 1964, talvez tenha sido o mais fértil da história da educação brasileira. Neste período atuaram educadores que deixaram seus nomes na história da educação por suas realizações. Neste período atuaram educadores do porte de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, Armando Hildebrand, Paschoal Leme, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, Durmeval Trigueiro entre outros.
Foi sob os auspícios da ditadura que foram assinados os chamados “Acordos MEC/USAID”, sendo que técnicos da USAID(United States Agency for International Development) participaram diretamente na reorganização do sistema educacional brasileiro. Os acordos deram à USAID um poder de atuação em todos os níveis de ensino (primário, médio e superior), nos ramos acadêmico e profissional, no funcionamento do sistema educacional, através da reestruturação administrativa, no planejamento e treinamento de pessoal docente e técnico, e no controle do conteúdo geral do ensino através do controle da publicação e distribuição de livros técnicos e didáticos. Essa abrangência de atuação mostra a importância atribuída à educação pelos países centrais, na integração e no posicionamento das sociedades periféricas no contexto geral do capitalismo internacional.
Foi a partir das orientações estabelecidas pelos acordos MEC-USAID e dos Relatórios do Grupo de Trabalho da Reforma Universitária e do Relatório Meira Matos, que foram realizadas as reformas educacionais sob a ditadura, culminadas com as Leis 5.540/68 e 5.692/71, sendo a primeira destinada ao Ensino Superior e a segunda aos Ensinos de Primeiro e Segundo Graus (o que hoje denominamos Ensino Fundamental e Médio, respectivamente).Essas reformas acabaram com os movimentos de alfabetização baseados no método crítico desenvolvido por Paulo Freire, no qual a educação aparecia ’como prática da liberdade‘. O método de alfabetização de Freire seria adotado em todo o país, como previa o PNA (Plano Nacional de Alfabetização), criado no governo de João Goulart. O PNA, porém, foi extinto pelo decreto nº 53.886, 1964 e, para substituí-lo, a ditadura implantou a CRUZADA ABC (Cruzada da Ação Básica Cristã), a fim de neutralizar a ação das Ligas Camponesas e, posteriormente, o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização).
Para erradicar o analfabetismo foi criado o MOBRAL. Aproveitando-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Freire, o MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil...não conseguiu.
É no período mais violento da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, que é instituída a lei 5.692/71.
Rotular a educação que ocorre durante um regime autoritário de “educação autoritária”, nada mais injusto com os muitos profissionais do ensino que lutaram, no dia-a-dia de sua prática, para educar da melhor maneia possível, a despeito das limitações estruturais e da opressão ideológica que enfrentavam. Aumenta-se o tempo da escolaridade e retira-se a vinculação constitucional de recursos com a justificativa de maior flexibilidade orçamentária. Mas alguém teria de pagar a conta, pois a intensa urbanização do país pedia pelo crescimento da rede física escolar. O corpo docente pagou a conta com duplo ônus: financiou a expansão com o rebaixamento de seus salários e a duplicação ou triplicação da jornada de trabalho. Assim, a política educacional da ditadura se caracterizou por proporcionar uma débil formação escolar e algum tipo de treinamento na formação escolar básica para inserção nos processos produtivos.

2 - MOBRAL / ACORDO MEC-USAID

A educação básica durante o regime militar tomara novos rumos. O acordo MEC-USAID e o MOBRAL são iniciativas decorrentes deste período.

2.a - MEC/USAID

O acordo firmado objetivava ajustar a educação Brasileira aos moldes americanos, atuando em todos os segmentos do ensino.O fator decisivo a adesão da política educacional encontrava-se na progressiva expansão das multinacionais e da transição cultural americana para o Brasil. A aliança entre essas nações materializou-se na “tutela” do EUA sobre o ensino no país com o envio de assessores para coordená-lo, direcionado-o as necessidades do mercado econômico.
Em 1968 o Brasil propõe uma “roupagem nacionalizadora” ao tratado, para acalmar os ânimos sociais.

2.b - MOBRAL

Outro “slogan” na ditadura militar era a erradicação do analfabetismo cujo pioneiro nesta empreitada foi o MOBRAL, porém as tentativas não proveram êxito, pois o analfabetismo perdurou como um mal endêmico na sociedade brasileira.Criado pela lei número 5.379, de 15 de dezembro de 1967, o programa destinava-se à alfabetização de Jovens e Adultos tendo como meta desenvolver-lhes aptidões para o trabalho e adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo vistas como inerentes para ascensão social, desconsiderando as contradições do sistema no qual estava imerso.

2.c – ESTRUTURA MOBRAL

O MOBRAL subdividiu-se em setores administrativos e organizacionais. Sendo o primeiro ramificado em: secretaria executiva (SEXEC), coordenações regionais (COREG), coordenações estaduais (COEST) e as comissões municipais (COMUM).O segundo compartimentado em gerências pedagógicas (GEPED), financeiras (GERAF), dentre outros.Para permanecer em atividade o programa modificou-se até sua desativação.
Depois da campanha de alfabetização de adultos, passou a contemplar também os adolescentes, redirecionando seu raio de influência para este grupo.Surgiram projetos e planos como: programas e técnicas de educação integrada, programa cultural, programa de profissionalização, diversificação comunitária, etc. Em 1975 o mobral é submetido a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), por estar abrangendo crianças de 9 a 14 anos no programa conhecido como “mobralzinho”.

2.d - METODOLOGIA DO MOBRAL

O Programa de Alfabetização Funcional apresentava objetivos, vejamos alguns:
1. desenvolver nos alunos as habilidades de leitura, escrita e contagem; 2. formar hábitos e atitudes positivas, em relação ao trabalho; 3. desenvolver a criatividade, a fim de melhorar as condições de vida, aproveitando os recursos disponíveis; 4. levar os alunos: - a conhecerem seus direitos e deveres e as melhores formas de participação comunitária; - a se empenharem na conservação da saúde e melhoria das condições de higiene pessoal, familiar e da comunidade;
Após a divulgação dos objetivos específicos, nota-se que estes não estão à precisão imediata de sua clientela, não há menção a melhores condições de trabalho ou salariais que naquele momento faziam-se primordiais a população.Mas apenas tratou-se de subjugá-la aos interesses políticos vigentes, no qual os deveres do estado para com a sociedade civil não são tão enfáticos, quanto os da população.Percebe-se isso através da intrínseca mensagem nas entrelinhas.Afirmavam ainda que o método estava baseado nas experiências dos educandos assim como na metodologia Freire, expurgada pelo mesmo.

3 - PROGRAMA DE EDUCAÇÃO INTEGRADA

Este programa foi implantado em 1971, tendo seu período de expansão entre os anos de 1972 e 1976,criado com o objetivo de dar prosseguimento a formação acadêmica do indivíduo.Apreciemos algumas propostas:
1 - propiciar o desenvolvimento da autoconfiança, da valorização da individualidade, da liberdade, do respeito ao próximo, da solidariedade e da responsabilidade individual e social; 2 - possibilitar a conscientização dos direitos e deveres em relação à família, ao trabalho e a comunidade; 3 - possibilitar a ampliação da comunicação social, através do aprimoramento da linguagem oral e escrita;
A principal diferença entre o programa de Alfabetização Funcional e o de Educação Integrada é o acréscimo de competências referentes as quatro primeiras séries iniciais, expandindo o papel do MOBRAL.

4 - PROGRAMA MOBRAL CULTURAL

Este programa foi lançado com fins de propagar a cultura ao povo brasileiro, permitindo aos estudantes acesso a manifestações artístico-culturais.Visava contribuir no campo alfabetizador, por isso considerava:
a. contribuir para atenuar ou impedir a regressão ao analfabetismo;
b. reduzir a deserção dos alunos de Alfabetização funcional;

O programa cultural do MOBRAL pretendia difundir uma imagem positiva do projeto à população.
Apesar de vislumbrar a disseminação da cultura, valorizava e preservava os valores vigentes.

5 - PROGRAMA DE PROFISSIONALIZAÇÃO

Este programa surgiu em 1973, estabelecendo parcerias com entidades privadas buscando profissionalizar a educação.O beneficiário deste, possuiria uma instrução de cunho profissional. Um dos órgãos conveniados foi o Programa Intensivo de Preparação de Mão – de – Obra. Percebe-se a grande preocupação em promover um ensino técnico, voltado para o desempenho de uma função específica, cabendo ao MOBRAL tal treino para a capacitação.

6 - PROGRAMA DE AUTO DIDATISMO

Visava tornar os alunos “construtores do seu próprio saber”.Destinado a ex – alunos e a comunidade, pretendia motivá-los a retomar os estudos ingressando na rede regular de ensino.

7 - ESTRUTURA POLÍTICA EDUCACIONAL

As seguidas mudanças no sistema educacional suscitaram modificações na regulamentação do ensino no período, culminando na sansão de leis e decretos .Destacaremos o decreto 477 e a LDB 5692/71.

8 - DECRETO 477 DE 26 DE FEVEREIRO DE 1969

Define infrações disciplinares praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino público ou particular, e dá outras providências.
Art 1o Comete infração disciplinar o professor, aluno, funcionário ou empregado de estabelecimento de ensino público ou particular que: I – Alicie ou incite a deflagração de movimento que tenha por finalidade a paralisação de atividade escolar ou participe nesse movimento; II – Atente contra pessoas ou bens, tanto em prédio ou instalações, de qualquer natureza, dentro de estabelecimentos de ensino, como fora dele;

9 - LDB 5692 / 71

9.a - CAPÍTULO I
Do Ensino de 1º e 2º graus

Art. 1º O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania.
Art. 2° O ensino de 1º e 2º graus será ministrado em estabelecimentos criados ou reorganizados sob critérios que assegurem a plena utilização dos seus recursos materiais e humanos, sem duplicação de meios para fins idênticos ou equivalentes.
Art. 3° Sem prejuízo de outras soluções que venham a ser adotadas, os sistemas de ensino estimularão, no mesmo estabelecimento, a oferta de modalidades diferentes de estudos integrados, por uma base comum e, na mesma localidade:
Art. 4º Os currículos do ensino de 1º e 2º graus terão um núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos.
Art. 7º Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de lº e 2º graus, observado quanto à primeira o disposto no Decreto-Lei n. 369, de 12 de setembro de 1969.
Parágrafo único. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos estabelecimentos oficiais de 1º e 2º graus.
Art. 9º Os alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de acôrdo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação.

9.b - CAPÍTULO II

Do Ensino de 1º Grau
Art. 17. O ensino de 1º grau destina-se à formação da criança e do pré-adolescente, variando em conteúdo e métodos segundo as fases de desenvolvimento dos alunos.
Art. 18. O ensino de 1º grau terá a duração de oito anos letivos e compreenderá, anualmente, pelo menos 720 horas de atividades.
Art. 19. Para o ingresso no ensino de 1º grau, deverá o aluno ter a idade mínima de sete anos.
Tanto o decreto 477 quanto a LDB 5692/71, mudaram o enfoque da educação brasileira. O decreto com características mais opressoras determinava as punições aos membros da escola quando cometiam uma infração (atitudes que incitem em movimentos contrários ao regime outorgado).Já, a LDB 5692/71primava uma formação educacional de cunho profissionalizante, incluindo-a no desenvolvimento econômico do país.

10 - FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO ENSINO

A formação dos professores durante o período estudado, restringiu-se a instruir o professor “técnico”, sendo assim a preparação dos profissionais centrou-se nos conteúdos eminentemente de cunho técnicos, e não nos conteúdos pedagógicos, norteadores da prática de ensino. A formação centralizou-se nas exigências da nova política implementada.

11 - TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

Tendência Tecnicista 1960: Surge nos EUA cujos teóricos e técnicos passam a influenciar os países latino-americanos em vias de desenvolvimento, dentre eles o Brasil. O objetivo desta escola, montada a partir de um modelo empresarial é favorecer as implicações da sociedade industrial e tecnológica. A pesquisa e tecnologia educacional garantem a objetividade e eficácia na ação da escola. A “nova” orientação dada à educação representava a preocupação com o aprimoramento técnico e o incremento da eficiência e maximização dos resultados e tinha como decorrência a adoção de um ideário que se configurava pela ênfase no aspecto quantitativo, nos meios e técnicas educacionais, na formação profissional e na adaptação do ensino as demandas da produção industrial.
O ingresso desta vertente educativa deve-se principalmente ao acordo MEC-USAID.Essa perspectiva torna-se relevante aos anseios momentâneos da sociedade brasileira, onde há predominância dos interesses burgueses. Atrelada às requisições do capital internacional, a política expansionista norte-americana tinha como princípios a incorporação dos países periféricos ao seu ciclo econômico como produtores de matéria-prima e formadores de mercado consumidor.
A preocupação com a disciplinarização do alunado demonstrada na Reforma Universitária (Lei nº 5692/71) também foi considerada e manifestou-se por meio do artigo 7º que regulamentou a obrigatoriedade das disciplinas de Educação Moral e Cívica e Educação Física nos ensino de 1º e 2º graus (BRASIL, 1971).

RESUMO

Alguma coisa acontecia na educação brasileira. Pensava-se erradicar definitivamente o analfabetismo através de um programa nacional. Sob os auspícios da ditadura foram assinados os chamados “Acordos MEC/USAID”. Foi a partir das orientações estabelecidas pelos acordos e dos relatórios do Grupo de Trabalho da Reforma Universitária e do Relatório Meira Matos que foram realizadas as reformas educacionais sob a ditadura.Essas reformas acabaram com os movimentos de alfabetização baseados no método crítico desenvolvido por Paulo Freire, no qual a educação aparecia como “prática da liberdade”. Para erradicar o analfabetismo foi criado o MOBRAL. È no período mais violento da ditadura , onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada que é instituída a lei 5.692/71, que tratava dos assuntos relacionados a educação no Brasil.Rotular a educação que ocorre durante um regime autoritário de “educação autoritária” é injusto com os profissionais de ensino que lutaram no dia a dia da melhor maneira possível. A urbanização do país pedia pelo crescimento da rede física escolar, e foi o corpo docente que pagou a conta desta expansão, com o rebaixamento de seus salários e a duplicação ou triplicação da jornada de trabalho. Outro “slogan” da ditadura era a erradicação de analfabetismo, porém as tentativas não obtiveram êxito. Outros programas foram criados além do MOBRAL, dentre os quais o programa de Alfabetização Funcional e o de Educação integrada, além do acréscimo de competências referentes as quatro primeiras séries iniciais, expandindo o papel do Mobral. Foi criado o Programa Mobral Cultural, com fins de propagar a cultura ao povo brasileiro permitindo acesso aos estudantes a manifestações artístico-culturais, pretendia difundir uma imagem positiva do projeto a população.Surge ainda o programa de Profissionalização em 1973, estabelecendo parcerias com entidades privadas buscando profissionalizar a educação, percebendo-se uma grande preocupação em promover um ensino técnico, voltado para o desempenho de uma função específica. Surge o Programa de Autodidatismo que visava tornar os alunos “construtores do seu próprio saber”, destinados a alunos de comunidades, pretendia seu retorno a rede regular de ensino. As leis; Tanto o decreto 477 quanto a lei 5.692/71, mudaram o enfoque da educação brasileira. O decreto com características mas opressoras determinava as punições aos membros da escola quando cometam uma infração, já a LDB, primava uma formação educacional de cunho profissionalizante, incluindo-a no desenvolvimento do país. A formação dos professores durante o período militar restringiu-se a instruir o professor “técnico”, pouco atendo-se ao s cunhos pedagógicos da educação.


ANÁLISE CRÍTICA


Dos fatos apresentados, concluímos que com tantas mudanças que já ocorreram no sistema educacional brasileiro, nenhuma mais radical que as ocorridas durante o período do governo militar, e muito embora se diga que a educação permaneceu estagnada durante este período, isto não é totalmente verdade, muitos programas foram criados em nome de desenvolver a educação no país, e muito embora possa ter havido realmente a intenção de que a educação avançasse em termos de melhorias estas reformas educacionais estavam por demais ligadas ao sistema de governo ditatorial. Com programas mal executados, em sua maioria, todas estas reformas implementadas estavam cunhadas ao fracasso, tanto assim que a maior das bandeiras educacionais do governo que era a erradicação do analfabetismo não obteve resultados, até mesmo a educação tecnicista implantada com a ajuda da USAID mal trabalhada também poucos frutos rendeu ao país. A educação é libertadora, democrática, e sua destinação deve ser a de desenvolver o cidadão em sua plenitude de direitos, portanto impossível de haver uma plena educação em um governo de ditadura, ainda hoje mesmo após passados mais de vinte anos do retorno a dita “democracia” ainda nossa educação sofre efeitos destes vinte anos de governo militar, avançamos, mais a passos lentos e sem vontade política. Educação é aqui entendida, basicamente, como a formação do ser humano para desenvolver suas potencialidades de conhecimento, julgamento e escolha para viver conscientemente em sociedade, o que inclui também a noção de que o processo educacional, em si, contribui tanto para conservar quanto para mudar valores, crenças, mentalidades, costumes e práticas. Montesquieu estabelece uma relação indispensável entre o tipo de regime político e o sistema educacional. É impossível, diz ele, uma república sem educação republicana, uma educação igualitária num regime que não seja igualitário.


Celso de Almeida.
*Foto: Livro - "O regime militar no Brasil", Carlos Fico

Cansei, Também



Artigo publicado no jornal O Globo, no dia 18/08/2007
Cristovam Buarque *ww.cristovam.com.br

Eu também cansei de gente que só quer levar vantagem, do governo paralelo dos traficantes, de pagar tantos impostos para nada, de tanta impunidade, de tanta burocracia, do caos aéreo, de CPIs que não dão em nada, de ver crianças nas ruas e não nas escolas, de presidiários falando ao celular, de empresários corruptores, de ter medo de parar no sinal, de bala perdida, de tanta corrupção, de achar isso tudo normal, de não fazer nada. (Publicidade do movimento cívico pelo direito dos brasileiros.)
Cansei também dos apagões nas paradas de ônibus, onde milhões de trabalhadores e estudantes esperam por transporte, debaixo de sol e de chuva, sob ameaça de assaltos, sem ter a quem reclamar e sabendo que sua tragédia será ignorada nos jornais. Do apagão da saúde nas filas dos hospitais, na cara doente do povo, no olhar de crianças assustadas e mães angustiadas. Cansei da desigualdade com que a tragédia escolhe seus portadores, poupando os que podem comprar remédios, médicos, advogados, até alguns anos de vida, prorrogando a própria juventude.
Cansei dos que estão cansados com aviões atrasados, mas sempre se omitiram ante um país que não decola, por causa da omissão e equívocos, da falta de patriotismo e de prioridades. Cansei da tolerância passiva ante os dois muros nos quais o Brasil esbarra: o muro do atraso e o muro da desigualdade.
Cansei do país campeão mundial da concentração de renda. E da burrice institucional que mede o progresso pelo número de carros engarrafados em ruas apinhadas.
Cansei dos que gritam e esperneiam contra a corrupção no comportamento individual dos políticos, mas usufruem da histórica corrupção nas prioridades da política. Cansei da humilhação dos baixíssimos salários dos professores, mas também das direções sindicais que não se ocupam da tragédia das escolas fechadas, por causa da guerra civil dos morros ou de greves intermináveis, pura e simplesmente.
Cansei dos artistas e apresentadores que se dizem cansados da corrupção mas que sempre votaram em corruptos, e que votarão neles novamente nas próximas eleições, pois preferem um corrupto amigo a um honesto que não é de sua turma.
Cansei dos publicitários que se cansaram da corrupção, mas que na próxima eleição farão alegremente a campanha dos corruptos que lhes pagarem bem.
Cansei do marketing político que ganha para nos enganar e usa os ganhos para nos enganar ainda mais.
Cansei da política que nos ilude com ciclos econômicos que pouco deixam para a nação, como os do açúcar, do ouro, do café, da borracha, do algodão, da soja, da industrialização, e que agora nos iludirá novamente com o etanol. Cansei da miopia dos que se negam a ver a oportunidade, e dos que não querem tomar as devidas precauções.
Cansei de um país que se diz sem racismo, mas não aceita o uso de cotas para aumentar o número de estudantes negros na universidade. Também cansei do elitismo do movim ento negro que se interessa somente nas cotas para os poucos que querem entrar na universidade, mas ignora os milhões de pobres - negros ou brancos - abandonados no caminho educacional, antes de concluírem o ensino médio.
Cansei da acomodação dos milhões de pobres que aceitam que seus pais e mães morram nas filas dos hospitais, porque a cura depende de poucos reais que eles não têm, e que sacrificam passivamente o futuro dos seus filhos, em escolas sem qualidade. Parece que acreditam que saúde e educação são direitos reservados por Deus apenas aos ricos.
Cansei, acima de tudo, da aparente impossibilidade de colocarmos juntos os cansados, que têm medo de perder seus privilégios, e os pobres, acomodados na sua falta de direitos. Cansei, mais ainda tenho esperança de que um dia os cansados tenham patriotismo e os acomodados tenham consciência. E que juntos lutem por um país com uma escola boa para cada criança, independentemente da cidade ou da família em que tenha nascido.
Cansei também de tanta gente achar que isso é um sonho impossível. Cansei, mas não me desesperei, ainda.

* Professor da Universidade de Brasília, Senador pelo PDT / DF.

Agora, imaginei




Artigo publicado no jornal O Globo, no dia 10/11/2007
Cristovam Buarque * http://www.cristovam.com.br/

Depois de me cansar dos problemas sociais brasileiros, despertei para o fato de que a solução está em uma revolução na educação. Nesta mesma coluna, publiquei dois artigos sobre o "cansei" e o "despertei".
Agora, imaginei que todas as crianças brasileiras, entre quatro e dezoito anos, estavam assistindo aula. Não apenas matriculadas, mas freqüentando, assistindo, aprendendo, até o final do Ensino Médio. Imaginei que o dia escolar começaria na hora certa, e todas as crianças ouviriam juntas o Hino Nacional. Cada aula duraria o tempo previsto. Imaginei todas as crianças em bonitos uniformes, sem diferenças por renda, luxo, pobreza.
Imaginei que nenhuma criança iria embora logo após a merenda, e que depois do almoço elas ainda teriam atividades escolares complementares: nadariam, pintariam, jogariam, ouviriam música, aprenderiam idiomas, leriam, fariam trabalhos comunitários, assistiriam a filmes, fariam experiências científicas, teatro, dança, aprenderiam a tocar instrumentos musicais.
Imaginei que todas chegariam ao final do ano e passariam nos exames, por terem aprendido, sem necessidade de promoção automática. Que todos os jovens concluiriam o Ensino Médio, salvo raras exceções por motivos de saúde. E que o Ensino Médio teria 4 anos, garantindo também o domínio de um ofício, ensinado na própria escola. Todos aprenderiam a se deslumbrar com as belezas do mundo, a se indignar com suas injustiças, a entender a lógica das coisas, a querer fazer um planeta melhor e mais belo, a sobreviver dignamente no atual mundo do conhecimento.
Imaginei que todos os professores seriam muito bem remunerados, dedicados e bem formados. Que nenhum professor precisaria parar as aulas para pedir aumento de salário. Que um Plano Nacional de Carreira quebraria a vergonhosa desigualdade na qualificação e na remuneração dos professores, dependendo do Município e do Estado. E que todos os nossos professores disporiam dos mais modernos equipamentos pedagógicos, cujo uso dominariam. Cheguei a imaginar que, quando nascesse uma criança, seus pais desejassem para ela a profissão de professor.
Imaginei o fim da desigualdade na qualidade da educação no nosso país, e que a escola dos pobres seria igual à escola dos ricos, a dos morros igual à dos condomínios, todas com a máxima qualidade. Imaginei a escola do Brasil igual às melhores do mundo. Jovens disputando o vestibular em igualdade de condições, independentemente da renda de sua família e da cidade onde vivessem. E a universidade recebendo assim os melhores dos melhores entre todos os brasileiros, com a máxima formação, e não apenas os melhores entre os poucos que concluem o Ensino Médio, com a mínima qualificação. Imaginei que os melhores desses novos alunos optariam pela Carreira Nacional do Magistério.
Imaginei a dinâmica e força dessa nova universidade, as pesquisas que ela desenvolveria, os profissionais que formaria, imaginei até os prêmios Nobel que o Brasil receberia.
Imaginei como estariam o desemprego, a violência, a corrupção, a desigualdade, a pobreza, a eficiência, a auto-estima, a participação, a cidadania, a economia, a saúde, a ciência e tecnologia, o meio ambiente, quando todos os brasileiros tivessem uma educação da maior qualidade. Vi que tinha imaginado um Brasil completamente diferente daquele que a realidade nos faz temer, porque o futuro tem a cara que as escolas têm no presente.
Então imaginei o mais difícil: que todos acreditariam que tudo isso era possível e necessário. Pensei que, se todos imaginássemos juntos, o caminho estaria aberto para transformar a imaginação em realidade. Que se os diferentes partidos, em sucessivos governos, se unissem para fazer aquilo que imaginei, o imaginado aconteceria.
Foi então que li no jornal que isso havia acontecido! O presidente e os governadores de diferentes partidos tinham se unido e feito um pacto em torno de um projeto que levará sete anos, quase o tempo suficiente para toda uma geração concluir o Ensino Fundamental. Mas era para a Copa do Mundo.

* Professor da Universidade de Brasília, Senador pelo PDT / DF.